O Fórum Colossos enfatiza a centralidade da adoração cristã como um recurso para sabedoria teológica - as práticas que "carregam" a racionalidade da tradição -, bem como o espaço em que somos conformados à imagem de Cristo, uma das principais formas pelas quais adquirimos as virtudes de Cristo (Cl 3:16). No entanto, para que essa declaração faça sentido, pode ser útil esclarecer o que entendemos por "adoração" em um sentido global.
Por "adoração", queremos dizer mais do que música ou canto. Em muitas igrejas contemporâneas, temos o hábito de falar sobre o "serviço de cânticos", como "adoração", que é um prelúdio seguido de "ensino" (i.e., o sermão) - talvez com mais uma oportunidade para "adorar com nossa doação" após o sermão. Em alguns aspectos, este estreitamento do significado de "adoração" é parte de um mau hábito que pegou após a Reforma: a tendência de reduzir adoração à expressão. Depois da Reforma, e, especialmente, na esteira da modernidade, enormes extensões do cristianismo contemporâneo tendem a só pensar em adoração como um ato "para cima" do povo de Deus que se reúne para oferecer o seu sacrifício de louvor, expressando a sua gratidão e devoção ao Pai, com o Filho, no poder do Espírito Santo.
Obviamente, isso é um impulso e uma compreensão totalmente bíblicos: se não louvarmos, até as pedras clamarão. Em certo sentido, somos feitos para louvar. A visão bíblica da história culmina no livro do Apocalipse com uma multidão adorando a encenando a exortação do Salmo 150 para "Louvar ao Senhor!" No entanto, pode-se ver como tais compreensões expressivistas de adoração alimentam (e se alimentam de) alguns dos piores aspectos da modernidade. Culto-como-expressão é facilmente seqüestrado pelo turbilhão rodopiante do individualismo. Nesse caso, mesmo a assembléia em adoração é mais como uma coleção de encontros individuais com Deus, na qual os fiéis expressam uma devoção "interior".
Mas ao longo da história cristã (incluindo a Reforma), o culto foi sempre entendido como mais do que expressão. O culto cristão é também uma prática formativa, precisamente porque a adoração é também um encontro "para baixo", no qual Deus é o ator principal. A adoração não é apenas algo que fazemos, ela faz algo em nós. A adoração é uma prática comunitária que é uma daquelas "habitações do Espírito" descritas por Craig Dykstra: um ritmo tangível, incorporado, comunitário, que é um canal para o poder transformador do Espírito. Adoração é um espaço onde somos alimentados pela Palavra e pelo sacramento; nós comemos a Palavra e comemos o pão que é a Palavra da Vida.
É por isso que, durante séculos, os cristãos têm descrito a adoração como um encontro "sacramental" , um lugar onde o Deus transcendente nos encontra em elementos tangíveis e táteis do pão e do vinho e da água e da Palavra. A Palavra e os sacramentos são especialmente espaços "carregados" de poder formativo do Espírito, razão pela qual a forma da adoração é importante. Estes não são apenas canais através dos quais nós fazemos o nosso louvor a Deus, pois elas também são práticas incorporadas por meio do qual o Espírito de Deus molda nossa imaginação. A adoração cristã que está reunida em torno da Palavra e da mesa não é apenas uma plataforma para a nossa expressão; é o espaço para a (trans)formação que o Espírito opera em nós. As práticas de adoração conjunta cristã têm sobre elas uma forma específica precisamente porque esta é a maneira como o Espírito recruta-nos na história de Deus reconciliando o mundo consigo, em Cristo. Há uma "lógica" para o formato da intencional adoração cristã histórica que executa o Evangelho e vez após vez como uma maneira de formar e reformar os nossos hábitos.
http://www.colossianforum.org/2011/11/09/glossary-worship-expression-and-formation/
Love Takes Practice: Christian Worship as a Pedagogy of Desire
Para ler mais :
Shane Claiborne, Jonathan Wilson-Hartgrove, and Enuma Okoro, “Introduction” to Common Prayer: A Liturgy for Ordinary Radicals(Zondervan, 2010).
John Witvliet and Emily Brink, “Prologue” to The Worship Sourcebook (Faith Alive/Baker, 2004).
James K.A. Smith, Desiring the Kingdom: Worship, Worldview, and Cultural Formation (Baker Academic, 2009).
Michael Horton, A Better Way: Rediscovering the Drama of God-Centered Worship (Baker, 2002).
Mark Labberton, The Dangerous Act of Worship (InterVarsity, 2007).
John Jefferson Davis, Worship and the Reality of God: An Evangelical Theology of Real Presence (InterVarsity Press, 2010).