Confissão é uma disciplina que funciona dentro da comunhão. Nela, permitimos que pessoas confiáveis conheçam nossas fraquezas mais profundas e nossas falhas. Isso nutre nossa fé na provisão de Deus para nossas necessidades por meio do seu povo, nosso senso de ser amado e nossa humildade diante de nossos irmãos. Assim permitimos que alguns amigos em Cristo saibam quem somos na verdade, não retendo nada importante, mas procurando manter a máxima transparência. Deixamos de carregar o peso de esconder e fingir, que normalmente absorve uma quantidade espantosa de energia, e engajamo-nos mutuamente nas profundezas da alma.
A igreja do Novo Testamento parece ter admitido que, se um irmão tivesse alguma enfermidade ou estivesse passando por qualquer aflição, a situação poderia ser motivada por um pecado, que separava a pessoa do pleno fluir da vida redentora. Assim, a Epístola de Tiago (5.16) diz: "Confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz. "Temos de aceitar o fato de que um pecado inconfesso é um tipo especial de jugo ou obstrução na realidade psicológica e física do cristão. A disciplina da confissão e do perdão remove este jugo.
A confissão também ajuda a evitar o pecado. Provérbios 28.13 diz que "quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia". Obviamente, "confessar" ajuda a "abandonar", pois persistir num pecado dentro de um círculo íntimo de relacionamentos (sem mencionar a comunhão no corpo transparente de Cristo) é insuportável. Dizem que a confissão é boa para a alma mas ruim para a reputação; e que uma má reputação torna a vida mais difícil em relação às pessoas mais próximas, isso todos nós sabemos. No entanto, proximidade e confissão nos forçam a manter uma distância do mal. Nada oferece melhor suporte para o comportamento correto do que a verdade aberta.
Abrir a alma para um amigo cristão maduro ou um ministro qualificado capacita essa pessoa a orar por problemas específicos e fazer coisas que podem ser úteis à redenção daquele que está confessando. Somente a confissão torna possível a comunhão profunda, e a falta dela explica muito da superficialidade encontrada nas igrejas. O que torna a confissão suportável? A comunhão. Há uma reciprocidade essencial entre as duas disciplinas.
Onde há confissão dentro de uma comunidade, a restituição não pode ser omitida e também serve como uma poderosa disciplina. É difícil não retificar os erros, uma vez que são confessados e conhecidos. É evidente que nem todo pecado exige restituição. Contudo, é inconcebível que eu sinceramente confesse a meu irmão que roubei sua carteira ou manchei sua reputação e depois siga alegremente meu caminho sem tentar fazer alguma coisa em relação ao que foi perdido.
Em geral, nossa integridade inata (uma força dentro de nossa personalidade) exige restituição. Freqüentemente, não é uma experiência muito agradável, mas de fato fortalece nossa vontade de fazer a coisa certa.
A confissão é uma das disciplinas mais poderosas para a vida espiritual. No entanto, com facilidade, pode haver abusos; e o seu uso efetivo requer considerável experiência e maturidade, tanto por parte do indivíduo envolvido como da liderança do grupo – o que nos leva à última disciplina (Submissão).
Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas, Editorial Habacuc, 2003, pp. 212-214