16 de setembro de 2009

Ambientalismo Espiritual

A última dinâmica do projeto divino é a harmonia no ciclo vital. Isso nada mais é que a consciência do processo constituído por nascimento, vida e morte. É enriquecedor chegar à conclusão de que a maior parte de nossa vida deve ser dedicada à preparação da próxima geração. Cada geração está diretamente ligada à anterior e à que a sucederá. O processo que culmina em nossa substituição começa desde que nascemos.

Quando há um relacionamento saudável dentro do ciclo vital, cria-se um sentimento altruísta de se doar, de entrega pessoal. Quanto mais uma pessoa se concentra na própria vida, menos ela se preocupa em doar-se aos outros. Só há uma maneira de os templos permanecerem cheios ao longo das gerações: as igrejas devem viver, morrer e nascer de novo, num ciclo permanente. Logo percebemos que a igreja não é a mesma que era há vinte anos, ou mesmo há quarenta anos. Para produzir o tipo de impacto sobre a história humana que Deus deseja, precisamos nos conscientizar de que esse ciclo vital é justo e necessário. No fim, a questão não é tanto de prolongar ou perpetuar nossa vida, e sim de promover a vida do próximo.

O exemplo mais inspirador que a natureza fornece é o do salmão que nada contra a corrente, rio acima, com o propósito único de dar origem a uma nova geração, mesmo que isso lhe custe a vida. Não tenho muita certeza se o instinto diz ao salmão que chegou a hora de morrer ou que ele precisa trazer ao mundo uma nova geração ao custo da própria vida, mas sei que até a natureza declara que a vida e a morte são inseparáveis.


Não é muito diferente com a igreja. Jesus nos lembra o seguinte: a não ser que uma semente morra, ela não pode produzir vida. Ele nos diz que a única maneira de vivermos é abrindo mão de nossa vida. Não deveria ser surpresa para nós o fato de que, quando a igreja desperta para um éthos apostólico, ela assume o compromisso de se entregar para que as outras pessoas possam viver.

Uma das coisas mais difíceis do mundo para um médico deve ser a obrigação de dizer a uma pessoa que ela está morrendo. Às vezes, o tratamento é ministrado apenas para aliviar parte do sofrimento, atuando apenas sobre os sintomas. Temos a tendência de fazer o mesmo com a igreja. A verdade é que, se as igrejas demoram muito a morrer para si, significa que elas estão fazendo o possível para se assegurar de que morrerão apenas quando lhes for conveniente.

Uma igreja próxima à região praiana de Santa Mônica, nos Estados Unidos, reúne todas as semanas seus dez membros remanescentes, cuja média de idade é de, no mínimo, 70 anos. Eles não podem decidir o que fazer. Estão paralisados pelo medo da morte e pela falta de vida. Em todo o país, igrejas que antes chegavam a uma frequência superior a mil pessoas deixaram de existir. Literalmente. O ciclo vital é uma coisa curiosa: não importa a maneira como a pessoa aborda essa questão, o resultado é o mesmo — ela morre. Se você, desde cedo, morre para si e celebra o dom da vida, encontra a alegria mesmo na morte. Nosso futuro não está em nossa preservação, mas naquilo em que investimos.

Não acho que seja apenas obra do acaso o fato de “igreja” ser um substantivo feminino, e não masculino. Ela é a noiva de Cristo, e ele é o noivo. A noiva abre mão de seu nome quando se casa com o noivo. Os nomes de nossas igrejas — a identidade que elas possuem como comunidades locais distintas — precisam ser assimilados pelo único nome que importa, o nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Uma grande sensação de liberdade me invade por saber que a Mosaic está aqui e um dia vai passar; que, um dia, uma nova geração talvez descubra que as estruturas e os estilos que escolhemos devem ser enterrados; que o noivo precisa continuar a contar com uma noiva pura e imaculada.

Precisamos viver a vida com a fidelidade que demonstraríamos se soubéssemos que Jesus está voltando hoje, mas com a consciência de que ele pode levar outros mil anos ou mais para retornar. Temos de nadar contra a corrente, seja pelo instinto que indica como nossas vidas estão se encaminhando para o fim, seja porque, de algum modo, sabemos que temos o dever de chegar ao ponto de gerar vida nova a qualquer custo. A igreja precisa se empenhar o tempo todo em dar à luz o futuro. Uma vez despertado, o éthos apostólico não tem medo da morte — pelo contrário,
ele encontra vida ao morrer para si e viver para Cristo.

Em nossa jornada de compromisso com o futuro, precisamos voltar ao princípio. Nosso destino está nas origens. Para que a igreja deixe a paralisia da instituição ela deve descobrir a própria identidade em sua essência como organismo espiritual. Esse é tanto o ponto de partida quanto o de chegada. Provavelmente, o pastor é, em primeiro lugar e a acima de tudo, um ambientalista espiritual que desperta a essência primordial da igreja.


Erwin McManus, Uma força em movimento, A espiritualidade que transforma a cultura, Garimpo Editorial, pp. 21-22

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