16 de abril de 2012

Desenvolvimento Natural da Igreja: uma resenha crítica

Resenha: Byron Straughn

Em seu parágrafo de abertura, Desenvolvimento Natural da Igreja (DNI) distingue-se de abordagens comuns de crescimento da igreja. "Os críticos do movimento de crescimento de igreja, têm enfatizado com frequência a necessidade de congregações de qualidade." O autor, Christian Schwarz "concorda plenamente: os crentes cristãos não devem "focar no crescimento numérico", mas "se concentrar no crescimento qualitativo". Infelizmente, a essência do livro é comum. Deixe-me explicar.

A intenção do livro de Schwarz é introduzir as oito qualidades essenciais que cada igreja deve ter para ser uma igreja crescente e saudável. Estas qualidades podem ser vistas na Bíblia, na natureza, e em dados de pesquisa. O motivo natureza/natural, que é muito criativo, percorre todo o livro. Inicialmente, folheando o livro, você pode ser tentado a pensar que se trata de um texto de biologia ginasial. O livro é dividido visualmente, usando código de cores para os capítulos, em cinco partes. Na introdução, Schwarz aborda por que abordagens "tecnocratas" para o crescimento da igreja ou metodicamente orientadas são falhas. Seus abordagem alternativas são centradas no princípio do "potencial biótico". Em vez de planejar fazer algo crescer, ele acredita que se deve proporcionar o ambiente certo e minimizar os obstáculos ao desenvolvimento natural. O princípio do "por si mesmo" exige isso. O crescimento acontece e não podemos compreender ou fazer acontecer, podemos simplesmente reduzir obstáculos para isso. Este mecanismo de crescimento foi projetado por Deus e implantado em todos os organismos vivos, incluindo a igreja.

A primeira parte do livro discute as oito marcas de qualidade. Ele descreve a amplitude da pesquisa e o que ela revelou sobre as marcas. Algumas marcas são liderança capacitadora, ministério orientado pelos dons, a espiritualidade contagiante, estruturas funcionais, culto inspirador, e evangelismo orientado para as necessidades.

A segunda parte descreve o que ele quer dizer com "o fator mínimo". Essencialmente, ele pontua, usando outras analogias, que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco. À característica de qualidade mais baixa deve ser dada atenção, se a igreja quer maximizar a retenção da benção de Deus.

A terceira parte do livro estabelece seis princípios que devem ser incorporados. Esses princípios estão em desacordo com a abordagem "tecnocrática" para o crescimento ou desenvolvimento da igreja. Ele ilustra isso comparando como um robô é diferente de uma pessoa. Um é montada depois que todas as suas partes são reunidas, o outro é formado a partir de um organismo. Um é uma máquina e o outro vivo. Seus princípios são interdependência, multiplicação e transformação de energia, uso múltiplo, simbiose e funcionalidade.

A quarta parte do livro sintetiza as partes anteriores. Schwarz está pronto para comparar e contrastar o paradigma que ele está propondo com os modelos alternativos de crescimento da igreja. Seu paradigma evita cuidadosamente os perigos inerentes aos paradigmas "tecnocrata" e "espiritualista".

A última seção do livro se move para a implementação. Enquanto abordagens baseadas em programas para o crescimento estão condenados ao fracasso, insiste Schwarz, "Os princípios devem sempre ser convertidas em programas aplicados" (105). Seus dez passos de ação incluem a construção de momentum espiritual, controle da eficácia (2 consultas DNI por ano), estabelecimento de metas qualitativas, aplicação de princípios bióticos, e utilizando ferramentas de DNI.

AVALIAÇÃO

Schwarz deve ser elogiado por alguns motivos. Primeiro, ele legitimamente quer se afastar de uma abordagem programática para o desenvolvimentoas de igrejas, reconhecendo que alguns dos pressupostos envolvidos nesse tipo de abordagem são simplesmente anti-bíblicos. Em segundo lugar, Schwarz tem embalado de forma concisa uma grande quantidade de dados de pesquisa. Sua pesquisa abrangeu seis continentes, 32 países e 1.000 igrejas. Ele pretende oferecer uma abordagem mais bíblica que pode ser empiricamente verificada, e o livro serve como introdução rápida de seu método e serviços de consultoria.

Infelizmente, a abordagem básica de Schwarz é inconsistente. Quero mostrar porque este é o caso. Minha maior preocupação com o DNI é o uso das Escrituras, que comunica uma baixa visão delas.

Em todo o livro há menos de 25 referências à Bíblia. Isso é cerca de uma referência para cada cinco páginas do livro. Com certeza, pode-se falar sobre as ideias cristãs sem explicitamente anexar referências bíblicas a elas, mas a defesa da abordagem não distintiva de um ou dois versículos dificilmente constitui uma base sólida. Em comparação com o rijo número referências feitas às Escrituras, existe um amplo número de analogias tiradas da natureza e de dados empiricamente verificados.

Por exemplo, o que a primeira parte do DNI (oito qualidades de caráter) está dizendo. Não há referências à Bíblia e cerca de 25 diagramas/gráficos destacando seus resultados de extensas pesquisas. Para ser justo, esta parte de seu livro é sobre o que ele descobriu sobre igrejas no que diz respeito às oito características de qualidade. No entanto, precisamos pensar sobre o raciocínio por trás da seleção dessas características. Em outras palavras, quem apareceu com os critérios para avaliar as igrejas contra essas características? O padrão utilizado para examinar as igrejas, se determinado pelas Escrituras, nunca foi explicado. Quem poderia argumentar contra algumas delas? Alguns parecem excelentes ou até mesmo bíblicos, mas eles são, finalmente, elaboração de Schwarz. Estas características assumidas não são entendidas como convencionadas universalmente ou reveladas através da criação em si. Nada aprendemos sobre a igreja a partir da criação.

Relacionado à pesquisa de Schwarz também está o pressuposto de que a amplitude das igrejas envolvidas em sua pesquisa é benéfico. Ele pontua que as igrejas variaram no que diz respeito ao declínio/crescimento, perseguidas e subsidiadas pelo Estado, modelos populares/desconhecidos, localização geográfica, idioma e carismático/doutrina (p. 18). No entanto, eu não estou tão certo de que isso é útil. O que ele entende por "igreja"? Será que uma igreja, subvencionada pelo Estado, que passa a ser liberal, rejeitando a autoridade das Escrituras, deva ser considerada uma "igreja" digna de observação? E se assim for, então o que estamos realmente observando? Quão diferente isso é de observar o café Starbucks ou a Dell? 

Schwarz está confortável com que o entendimento "liberal" seja uma ênfase excessiva no Deus, o Criador, assim como ele entende que seja excessiva a ênfase de um evangélico no Cristo Redentor, e do Carismático sobre o Espírito doador (ver seu A Arte de Experimentar Deus, 14-15). A igreja é distinta, porque ela é a nova humanidade de Deus que nasceu pela sua Palavra e separada para o seu serviço.

Voltando ao que eu vejo como uma visão baixa da Escritura estão suas práticas interpretativas. Toda a premissa de seu livro (o crescimento acontece por si mesmo, portanto, minimize obstáculos) recai principalmente sobre duas passagens - Mateus 6:28 e Marcos 4:26-29. DNI perde o significado e a intenção dessas passagens.

Uso de Schwarz de Mt. 6 depende da legitimidade do uso de uma palavra que aparece uma vez no Novo Testamento (katamanthanô) de uma forma que é exegeticamente reducionista. Jesus diz "olhe" ou, melhor ainda "olhe atentamente", mas não temos nenhuma razão para pensar que esta palavra deve revelar todo um paradigma da compreensão do crescimento de igrejas. Jesus está simplesmente usando uma ilustração e tentando conectar a verdade de seu tema com a vida cotidiana. O contexto de Mateus 6 não é sobre o crescimento da igreja, mas sobre o caráter e a ética do Reino. Jesus não está dizendo: "Olhe de modo extra rígido, estude de perto e observe diligentemente o princípio que rege o crescimento biótico da igreja." O que ele está pontuando é que a vida cristã está fundamentada em Deus. Este Deus cuida dos lírios do campo e mais ainda das pessoas feitas à sua imagem.

Uso de Schwarz de Marcos 4:26-29 é forçado. As lavouras do agricultor crescem enquanto ele dorme e ele não entende como, simplesmente acontece por si só. Schwarz entende essa automação de crescimento não como uma simples analogia, mas como uma verdade. A igreja cresce e não sabemos como, ela apenas o faz e fará por si só (ele reconhece que Deus faz isso) - "mesmo que isso não possa ser provado empiricamente" (12). Portanto, o trabalho da igreja é minimizar os seus próprios obstáculos ambientais. Esta passagem, entretanto, não é sobre a igreja, mas sobre o reino de Deus. Jesus está tentando descrever por meio de comparação aquilo que é semelhante, não o mecanismo de crescimento por trás dele. Jesus está dizendo que o curso de seu plano será realizado e no final haverá um grande julgamento. Sim, é verdade que Deus está por trás do crescimento da igreja (como visto nas igrejas individuais), mas a intenção de Jesus com esta parábola é escatológica, não biológica.

A baixa visão de Schwarz acerca Escrituras também é vista em seu desejo de colocar observações naturais e pesquisas ao lado das Escrituras ou verificando-as. Ele qualifica sua compreensão de relacionamento entre elas, dizendo: "Nem as observações das igrejas nem as observações da natureza nunca devem se tornar a base para o estabelecimento de padrões absolutos.... Nem tudo na natureza é um "princípio biótico" para ser usado no desenvolvimento natural da igreja. Nossa tarefa é cuidadosa e biblicamente discernir o que é teologicamente legítimo e o que não é "(13). Eu acho que Schwarz gira a Bíblia de cabeça para baixo. Será que a Bíblia precisa ser verificada empiricamente? E como se faz isso? No DNI você tem a impressão de que a Bíblia é usada para provar estes princípios bióticos do paradigma DNI. As observações naturais não são usadas ​​para ilustrar um princípio, ao contrário, parece que a Bíblia sustenta a legitimidade dos mecanismos naturais e os dados vão provar isso empiricamente.

É, portanto, nenhuma surpresa que o livro de Schwarz minimiza o ensino e a pregação. Ironicamente, a metáfora biológica "semente" é usada às vezes para descrever a Palavra de Deus (Marcos 4:14, Lucas 8:11, 1 Pe 1:23). Diferenças doutrinárias são borradas ou negligenciadas em DNI. Aqueles que querem ênfase em doutrina são descartados como "tecnocráticos" ou em outros momentos como "espiritualizadores". Quando Schwarz lista os dez passos a serem tomados para a implementação, o seu primeiro ponto ("Construir dinâmica espiritual") é vazio quando devia estar preenchido com o Evangelho e com o poder criador de vida da Palavra de Deus. Ele admite que o desenvolvimento da igreja é feito por causa da adoração mas ele não tem conselhos de como ou por que uma congregação é motivada a adorar. Sua resposta é que algo poderia acontecer em um retiro, o que faz as pessoas se perguntar mais sobre a sua experiência espiritual na igreja (107). Como o cientista naturalista, DNI não tem explicação para a origem da vida.

Além disso, então, não é nenhuma surpresa que a evidência que ele aponta para uma igreja que possui "espiritualidade apaixonada (contagiante)" é a "experiência inspiradora" de sua vida de oração (26). Ele coloca uma forma de "ortodoxia" contra a espiritualidade apaixonada, cortando o lugar da ortodoxia em qualquer verdadeira espiritualidade cristã. As pessoas não podem avaliar sua própria saúde espiritual de acordo com sua experiência, eles devem medir de acordo com o que Deus revelou nas Escrituras.

Depois de ter explicado por que eu penso que livro de Schwarz apresenta uma visão baixa das Escrituras, não posso apoiar este livro. Eu não recomendaria o livro a um pastor, porque eu acho que há mais material edificante que ele pudesse ler e passar o tempo buscando. Mesmo que Schwarz pretenda distanciar sua abordagem do crescimento de igrejas de outras abordagens, e que ele possa ter salientado princípios acima dos métodos, a raiz de seu "paradigma" é o seu entendimento derivado de suas observações. O propósito e plano da igreja não são obtidos a partir de observações e descrição naturais. Eles são em última instância revelados, e são parte do plano prescrito de Deus para redimir um povo para si mesmo.


Byron serve como o diretor de desenvolvimento teológico para a Cruzada Estudantil e Profissional na região do Meio Atlântico. Graduou-se no Seminário Teológico Batista do Sul em 2004. Anteriormente, ele havia trabalhado com estudantes universitários na área de DC/Baltimore. Ele é casado com Amy e tem 3 filhos pequenos.


Janeiro / Fevereiro 2008

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