22 de abril de 2012

O Chamado Para um Futuro Evangélico-Antigo


Pouco antes de sua morte, em 2007, Robert E. Webber passou boa parte de seu último ano trabalhando em colaboração com mais de 300 teólogos e outros líderes para criar um chamado para um Futuro Evangélico Antigo. O Chamado continua alguns temas e amplia os "Call Chicago" de 1977, e estabelece uma visão de uma fé Antiga-Futura em um mundo pós-moderno. Que Webber ajudasse a criar um tal apelo não é incomum, pois ele passou toda a sua vida profissional chamando a igreja para reforma contínua e, sobretudo, incentivando os líderes e leigos a beber do poço refrescante da verdade antiga. Que o Chamado viesse, como veio, em um momento de grande mudança no mundo e na igreja, e que também acontecesse um pouco antes de sua morte, dá ao documento uma espécie de peso que torna especialmente atraente seu exame.


Os teólogos que participaram representavam uma ampla diversidade de filiação denominacional e a listagem de editores do Chamado e membros do conselho de referência foi marcante em sua abrangência e profundidade. Mais encorajador foi que centenas de pastores, teólogos e leigos em todos os EUA, Canadá e no mundo assinaram o Chamada antes da organização que originalmente publicou o documento cessasse as suas operações.


Agora, a Rede Fé Antiga-Futura tem o orgulho de hospedar e defender o Chamado e incentiva os visitantes aqui a afirmá-lo mediante a assinatura de seus nomes, acrescentando-os à lista crescente de pessoas afins de todo o mundo.






PRÓLOGO

Em cada época o Espírito Santo chama a Igreja a examinar a sua fidelidade à revelação de Deus em Jesus Cristo, com autoridade registrada nas Escrituras e transmitida através da Igreja. Assim, enquanto nós afirmamos a força global e a vitalidade do evangelicalismo mundial em nossos dias, acreditamos que a expressão norte-americana do Evangelicalismo precisa ser especialmente sensível aos novos desafios externos e internos enfrentados pelo povo de Deus.

Estes desafios externos incluem o ambiente cultural atual e o ressurgimento de ideologias políticas e religiosas. Os desafios internos incluem a acomodação Evangélica à religião civil, o racionalismo, privatismo, e pragmatismo. À luz desses desafios, nós chamamos os evangélicos para fortalecer o seu testemunho através de uma recuperação da fé articulada pelo consenso da Igreja antiga e seus guardiões nas tradições da Ortodoxia Oriental, Catolicismo Romano, Reforma Protestante e os despertamentos evangélicos. Os cristãos antigos enfrentaram um mundo de paganismo, gnosticismo e dominação política. Em face da heresia e da perseguição, eles compreenderam a história através da história de Israel, que culminou com a morte e ressurreição de Jesus e a vinda do Reino de Deus.

Hoje, como na era antiga, a Igreja é confrontada por uma série de narrativas mestras que contradizem e competem com o evangelho. A questão premente é: quem pode narrar o mundo? O Chamado para um Futuro Evangélico Antigo desafia os cristãos evangélicos a restaurar a prioridade da história bíblica divinamente inspirada dos atos de Deus na história. A narrativa do Reino de Deus traz implicações eternas para a missão da Igreja, sua reflexão teológica, seus ministérios públicos de culto e espiritualidade e sua vida no mundo. Ao envolvermo-nos nestes temas, acreditamos que a Igreja será fortalecida para abordar as questões de nossos dias.


1. Da Primazia da Narrativa Bíblica

Fazemos um apelo a um retorno à prioridade da história canônica divinamente autorizada do Deus Triúno. Esta história -- Criação, Encarnação e Recriação -- foi efetuada pela recapitulação de Cristo da história humana e resumidas pela Igreja primitiva em suas Regras de fé. O conteúdo formado no evangelho dessas Regras serviram de chave para a interpretação das Escrituras e sua crítica da cultura contemporânea e, assim, moldou o ministério pastoral da Igreja. Hoje, nós chamamos os evangélicos a se afastar dos modernos métodos teológicos que reduzem o evangelho a meras proposições, e de ministérios pastorais contemporâneos tão compatíveis com a cultura que camuflam a história de Deus ou a esvaziam do seu significado cósmico e redentor. Em um mundo de histórias rivais, nós chamamos os evangélicos a recuperar a verdade da palavra de Deus como a história do mundo, e torná-la o centro da vida evangélica.

2. Da Igreja, a Continuação da Narrativa de Deus

Chamamos os evangélicos a tomar seriamente o caráter visível da Igreja. Fazemos um apelo por um compromisso com sua missão no mundo em fidelidade à missão de Deus (Missio Dei), e por uma exploração das implicações ecumênicas que isso tem para a unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade da Igreja. Dessa forma, chamamos os evangélicos a afastar-se de um individualismo que faz da Igreja um mero adendo ao plano redentor de Deus. O evangelicalismo individualista tem contribuído para os atuais problemas do cristianismo sem igreja (churchless Christianity), redefinições da Igreja de acordo com modelos de negócios, eclesiologias separatistas e atitudes condenatórias em relação à Igreja. Por isso, chamamos os evangélicos para recuperar seu lugar na comunidade da Igreja católica.


3. Da Reflexão Teológica da Igreja na Narrativa de Deus

Chamamos pela reflexão da Igreja para permanecermos ancorados nas Escrituras em continuidade com a interpretação teológica aprendida com os primeiros Pais. Dessa forma, chamamos os evangélicos a afastar-se de métodos que separam a reflexão teológica das tradições comuns da Igreja. Esses métodos modernos compartimentalizam a história de Deus, analisando suas partes separadas, enquanto ignoram a obra inteira de Deus como redentor recapitulada em Cristo. As atitudes anti-históricas também desconsideram o legado bíblico e teológico comum da Igreja antiga. Esse descaso ignora o valor hermenêutico dos credos ecumênicos da Igreja. Isso reduz a história de Deus do mundo a uma das muitas teologias concorrentes e prejudica o testemunho unificado da Igreja para o plano de Deus para a história do mundo. Por isso, chamamos os evangélicos à unidade na "tradição que tem sido crida por toda parte, sempre e por todos", bem como à humildade e à caridade em suas várias tradições protestantes.


4. Do Culto da Igreja como Dito e Promulgação da Narrativa de Deus

Chamamos por um culto público que canta, prega e promulga a história de Deus. Apelamos por uma consideração renovada de como Deus ministra a nós por meio do batismo, da Eucaristia, da confissão, da imposição de mãos, do matrimônio, da cura e através dos dons (carism) do Espírito, pois essas ações moldam nossas vidas e indicam o sentido do mundo. Assim, chamamos os evangélicos a afastar-se de formas de culto que se concentram em Deus como um mero objeto do intelecto ou que afirmam o "eu" como a fonte da adoração. Tal culto tem resultado em modelos  orientados para preleções, a orientados pela música, centrados em peformance, e controlados por programa que não proclamam adequadamente a redenção cósmica de Deus. Por conseguinte, chamamos os evangélicos a recuperar a substância histórica da adoração da Palavra e da Mesa e para atender ao ano cristão, que marca o tempo de acordo com atos salvíficos de Deus.


5. Da Formação Espiritual na Igreja como a Encarnação da Narrativa de Deus

Clamamos por uma formação catequética espiritual do povo de Deus que se baseie firmemente em uma narrativa bíblica Trinitariana. Estamos preocupados quando a espiritualidade é separada da história de Deus e do batismo na vida de Cristo e no seu Corpo. Espiritualidade, feita independente da história de Deus, é muitas vezes caracterizada pelo legalismo, conhecimento meramente intelectual, uma cultura excessivamente terapêutica, o gnosticismo da Nova Era, uma rejeição dualista deste mundo e uma preocupação narcisista com a própria experiência. Estas falsas espiritualidades são inadequados para os desafios que enfrentamos no mundo de hoje. Por isso, apelamos aos evangélicos a retornar a uma espiritualidade histórica como aquela ensinada e praticada no catecumenato antigo (regras e instruções para novos convertidos).


6. Da Vida Encarnada da Igreja no Mundo

Clamamos por uma santidade cruciforme e compromisso com a missão de Deus no mundo. Esta santidade encarnada afirma a vida, a moralidade bíblica e a auto-negação apropriada. Ela nos chama a sermos fiéis mordomos da ordem criada e profetas ousados à nossa cultura contemporânea. Dessa forma, chamamos os evangélicos à intensificar a sua voz profética contra as formas de indiferença para com o dom divino da vida, a injustiça econômica e política, a insensibilidade ecológica e o fracasso em defender os pobres e marginalizados. Muitas vezes falhamos em permanecer profeticamente contra o cativeiro da cultura ao racismo, o consumismo, a correção política, a religião civil, o sexismo, o relativismo ético, a violência e a cultura da morte. Esses fracassos têm silenciado a voz de Cristo para o mundo através da sua Igreja e prejudica a história de Deus do mundo, a qual a Igreja deve coletivamente  encarnar. Portanto, chamamos a Igreja para recuperar a sua missão contra-cultural ao mundo.


EPÍLOGO

Em suma, nós chamamos os evangélicos a recuperar a convicção de que a história de Deus molda a missão da Igreja para dar testemunho do Reino de Deus e para informar os fundamentos espirituais da civilização. Nós apresentamos este Chamado como um contínua conversa aberta. Estamos conscientes de que temos nossos pontos cegos e frquezas. Portanto, encorajamos os evangélicos a se engajar neste Chamado dentro dos centros educativos, denominações e igrejas locais, através de publicações e conferências.

Oramos para que possamos avançar com a intenção de proclamar um Deus amoroso, transcendente, triúno, que tem se envolvido em nossa história. Em conformidade com as Escrituras, o credo e a tradição, é o nosso mais profundo desejo de encarnar os propósitos de Deus na missão da Igreja através de nossa reflexão teológica, o nosso  culto, nossa espiritualidade e nossa vida no mundo, o tempo todo proclamando que Jesus é Senhor sobre toda a criação.

© Northern Seminary 2006 Robert Webber and Phil Kenyon

Este Chamado é emitido no espírito de sic et non, portanto aqueles que afixarem seus nomes a este Chamada não precisam concordar com todo o seu conteúdo. Em vez disso, seu consenso é que essas são questões a serem discutidas na tradição de semper reformanda enquanto a igreja enfrenta os novos desafios do nosso tempo. Durante um período de sete meses, mais de 300 pessoas participaram via e-mail para escrever o Chamado. Estes homens e mulheres representam uma ampla diversidade étnica e de afiliação denominacional. Os quatro teólogos que mais consistentemente interagiram com o desenvolvimento do Chamado foram nomeados como Editores Teológicos. Ao Conselho de Referência foi dada a tarefa especial de aprovação geral.


Editores Teológicos
2006
  • Hans Boersma, James I. Packer Professor of Theology, Regent College, Vancouver, BC, Canada
  • Howard Snyder, Professor of the History and Theology of Mission, E. Stanley Jones School of World Mission and Evangelism, Asbury Theological Seminary, Orlando, FL
  • Kevin Vanhoozer, Research Professor of Systematic Theology at Trinity Evangelical Divinity School, Deerfield, IL
  • Rev. Dr. D. H. Williams, Professor of Religion in Patristics and Historical Theology, Baylor University, Waco, TX

Conselho de Referência 2006


  • Jamie Arpin-Ricci, Co-director, Youth with a Mission Urban Ministries, Winnipeg, Canada
  • Bruce Ellis Benson, Associate Professor of Philosophy, Wheaton College, Wheaton, IL
  • Ryan K. Bolger, Asst. Professor of Church in Contemporary Culture, Fuller Theological Seminary, CA
  • Alfloyd Butler, Affiliate Professor of African American Religious Studies, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Rodney Clapp, Editorial Director, Brazos Press, Grand Rapids, MI
  • Charles H. Cosgrove, Professor of New Testament Studies and Christian Ethics, Northern Seminary, IL
  • David Fitch, Lindner Professor of Evangelical Theology, Northern Seminary, Lombard IL
  • John Franke, Professor of Theology, Biblical Seminary, Hatfield, PA
  • Dinelle Frankland, Assoc. Professor of Worship, Lincoln Christian Seminary, Lincoln, IL
  • Chris Hall, Provost of Eastern University and Dean of the Templeton Honors College, St. Davids, PA
  • Charles Hambrick-Stowe, Dean of the Seminary and Professor of Christian History, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Roland G. Kuhl, Executive Director, Institute for Missional Initiatives, Round Lake Beach, IL
  • Bryan M. Litfin, Associate Professor of Theology, Moody Bible Institute, Chicago, IL
  • Danut Manastireanu, Ph.D., Director for Faith & Development, Middle East & Eastern Europe Region of World Vision International, Iasi, Romania
  • Claude Mariottini, Professor of Old Testament, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Brian McLaren, author, Laurel, MD
  • Bradley Nassif, Associate Professor of Biblical and Theological Studies, North Park University, Chicago, IL
  • David Neff, Editor and Vice-President, Christianity Today, Carol Stream, IL
  • Dennis Okholm, Professor of Theology, Azusa Pacific University, Azusa, CA
  • Bob Price, Assoc. Professor of Evangelism and Urban Ministry, Northern Seminary, Lombard, IL
  • Michael Quicke, Charles W. Koller Professor of Preaching and Communication, Northern Seminary, Lombard, IL
  • R. R. Reno, Professor of Theology, Creighton University, Omaha, NE
  • Edmund Rybarczyk, Assistant Professor of Systematic Theology, Vanguard University, Costa Mesa, CA
  • Joel Scandrett, Associate Editor Academic & Reference Books, InterVarsity Press, Downers Grove, IL
  • Douglas R. Sharp, Professor of Christian Theology, Northern Seminary, Lombard, IL
  • P.L. Sinitiere, Ph.D. candidate (history), University of Houston, Houston, TX
  • Laura Smit, Dean of Chapel, Calvin College, Grand Rapids, MI
  • James K.A. Smith, Assoc. Professor of Philosophy, Calvin College, Grand Rapids, MI
  • Jennifer Trafton, Managing Editor, Christian History & Biography, Carol Stream, IL

Patrocinadores:
Northern Seminary (www.seminary.edu)
Baker Books (www.bakerbooks.com)
Institute for Worship Studies (www.iwsfla.org)
InterVarsity Press (www.ivpress.com)

“La Llamada” en Español
      

Um comentário:

  1. Estou com o livro "Ancient-Future Faith: Rethinking Evangelicalism for a Postmodern World". James K.A. Smith, professor no Calvin Institute of Christian Worship o cita em seu livro "Who's Afraid of Postmodernism?: Taking Derrida, Lyotard, and Foucault to Church" (p. 150): "In this very readable book, Webber makes the case that I have suggested: that a truly postmodern church will be deply historical (recovering its ancient heritage) and liturgical (activating the imagination throug symbol and sacrament" http://is.gd/MSYrX2

    "Uma igreja verdadeiramente pós-moderna será profundamente histórica (recuperando sua antiga herança) e litúrgica (ativando a imaginação através do símbolo e do sacramento" James Smith KA http://is.gd/MSYrX2 [portuguese]

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