30 de abril de 2014

Tradição Para a Inovação




O evangelicalismo na América do Norte hoje é um assunto vibrante e animado, repleto de inovação e atividade. De um lado a outro dos Estados Unidos e do Canadá, os evangélicos estão avançando como nunca antes para ajudar a restaurar um mundo quebrado.

Ao mesmo tempo, de acordo com seu espírito empreendedor histórico, os evangélicos estão constantemente criando e cindindo maneiras novas e diferentes de fazer igreja.

Muitas vezes se sobrepondo, essas duas tendências, à primeira vista, podem parecer surgir a partir do mesmo espírito inovador, dois desenvolvimentos interligados e complementares, trabalhando juntos para o bem da igreja.

De fato, no entanto, não se trata de tendências complementares, mas de trajetórias concorrentes, em desacordo uma com a outra. Embora possa não ser intencionado, as últimas trabalham inevitavelmente para minar as primeiras. Em suma, não podemos esperar restaurar o mundo se estamos constantemente reinventando a igreja; o árduo trabalho de inovação requer fundamentação em uma tradição.

Antes que eu explique, apenas considere os sinais dessas tendências que estão ao nosso redor.

Em todo o continente, um número crescente de evangélicos hoje estão capturando uma visão para o que Andy Crouch chama de "fazer cultural". Livres de um foco histórico em escatologias escapistas, eles estão avidamente envolvidos na produção cultural de maneira que visem shalom e contribuam para o bem comum.

Como Gabe Lyons documenta em "The Next Christians", esses evangélicos estão trazendo uma piedade ativista para áreas que vão desde política e tecnologia até moda e arte. Jovens evangélicos são enérgicos empreendedores sociais interessados ​​em criatividade, invenção e inovação muito além da esfera restrita da igreja.

Eles também são intensamente interessados ​​em abordar questões de justiça, opressão e desordem social. Eles querem "restaurar" um mundo quebrado; eles querem tanto renovar o mundo quanto colocar o mundo em ordem. (Espero que muitos cristãos mainline sejam incentivados a vê-las finalmente entrando no movimento.

Enquanto isso, o evangelicalismo continua a ser um foco de quase irrestrita inovação religiosa, notavelmente ágil e competitivo no dinâmico "mercado" da espiritualidade contemporânea (um mercado religioso que é tão antigo quanto as colônias americanas).

A independência empreendedora da espiritualidade evangélica dá espaço para todos os tipos de startups congregacionais que requerem pouco ou nenhum apoio institucional. Atendendo ao "nicho" de um público cada vez mais especializado, essas startups não estão subordinadas a formas litúrgicas ou a legados institucionais. De fato, muitos anunciam orgulhosamente o seu desejo de "reinventar a igreja."

Claramente, o labor cultural de restauração requer inovação criativa. "Fazer cultura" requer que imaginemos o mundo diferente de como ele é -- o que significa ver através das histórias status quo que nos foram ditadas e, em vez disso, visualizar o reino que vem. Sim, precisamos de nova energia, novas estratégias, novas iniciativas, novas organizações, e até mesmo novas instituições.

Mas, se esperamos colocar o mundo em ordem, precisamos pensar diferente e agir de forma diferente e construir instituições que promovam tal ação.

Se o nosso trabalho cultural vai ser restaurador -- se vai endireitar o mundo -- então precisamos de imaginações que tenham sido moldadas por uma visão de como as coisas deveriam ser. Nossa inovação e invenção e criatividade terão de ser banhadas em uma visão escatológica do para que o mundo é feito, o que ele é chamado a ser -- o que os profetas muitas vezes descreveram como shalom. A inovação para a justiça e shalom exige que sejamos regularmente imersos na história de Deus conciliando todas as coisas consigo mesmo.

Essa imersão acontece mais poderosamente no culto -- em formas intencionais, históricas e litúrgicas que "carregam" a história cristã de maneira que penetram em nossos ossos e tornam-se parte de nós. É por isso que a "reinvenção" irrestrita e indisciplinada da igreja na verdade enfraquece nossa capacidade de realizar a elaboração cultural inovadora e restauradora. A história não pode moldar-nos, não pode tornar-se parte de nós, em uma igreja que está constantemente se reinventando.

Em seu ensaio "The Science of Design", Herbert Simon, um dos ícones da teoria do design, escreveu: "Todo mundo projeta quem elabora cursos de ação que se propõem a mudar as situações existentes para as preferidas. Se Simon estiver correto, então o evangelho, eu diria, é um projeto de "design", e o culto cristão, um estúdio de design.

A missão da igreja, para tomar emprestado de Simon, é enviar inovadores e criadores cujas ações sejam "destinadas a transformar as situações existentes nas preferidas." Para fazer esse trabalho, os inovadores, os restauradores, os criadores e designers precisam que a igreja seja uma estação de imaginação, um espaço onde podemos voltar a habituar à nossa imaginação a "verdadeira história do mundo inteiro." Nossa imaginação precisa ser restaurada, recalibrada e realinhada por estar imersa na história de Deus em Cristo reconciliando consigo o mundo.

Isso é o que o culto cristão intencional e histórico faz. É na adoração que nós aprendemos o que Deus "prefere" para o mundo, dando direção ao nosso projeto. Precisamos de pastores e sacerdotes e líderes de louvor que entendem e apreciam que o culto cristão é uma estação de imaginação, um lugar onde as normas da história cristã são levadas e incorporadas em nossa adoração.

É por isso que a forma é importante. É por isso que a maneira pela qual adoramos faz toda a diferença. A tradição litúrgica cristã é um recurso para fomentar a inovação cultural.

Se a igreja vai enviar "restauradores" que se engajam com a cultura para o bem comum, precisamos recuperar e lembrar das ricas práticas criativas de culto cristão histórico, que carregam a singular história do evangelho.

Considere apenas algumas das muitas maneiras pelas quais a tradição litúrgica nutre e reabastece a imaginação:

  • Ajoelhando em confissão e pronunciando "as coisas que fizemos e as coisas que deixamos de fazer ... " imprime em nós tangível e visceralmente o quebrantamento do nosso mundo e humilha nossas próprias pretensões;
  • Prometendo fidelidade no Credo é um ato político -- um lembrete de que somos cidadãos de um reino vindouro, reduzindo a nossa tentação de nos identificar demais com qualquer configuração da cidade terrena;
  • O rito do batismo, onde a congregação promete ajudar a criar uma criança ao lado dos pais, é apenas a formação litúrgica que precisamos para ser um povo que pode apoiar aquelas crianças que estão sendo criadas com deficiência intelectual ou outras necessidades especiais;
  • Sentando à Mesa do Senhor, com o Rei ressuscitado, onde todos são convidados para comer, é uma lembrança tátil do mundo justo e abundante pelo qual Deus anseia

Nesses e em incontáveis outros meios, a tradição litúrgica orienta a nossa imaginação para o reino, instruindo-nos para o trabalho inovador e restaurador de fazer cultura. A fim de fomentar a imaginação cristã, nós não precisamos inventar; precisamos lembrar.

Não podemos esperar re-criar o mundo se estamos constantemente reinventando a "igreja". Em vez disso, vamos nos reinventar bem a partir da história. A tradição litúrgica é a plataforma para a inovação criativa.


14 de junho de 2012 |© 2014 LEADERSHIP EDUCATION AT DUKE DIVINITY
tradução livre: @danieldliver

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