A mensagem do evangelho são as boas-novas de redenção e reconciliação, expressas poderosamente nas palavras do apóstolo Paulo: "Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação [...]. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus" (2 Co 5.17-20).
Esse evangelho, euangelion, essas boas-novas maravilhosas são que nós não temos mais de ficar do lado de fora, proibidos da intimidade com Deus por causa do nosso pecado e da rebelião. Sabendo que somos seres de dura cerviz e de coração empedernido, Deus providenciou um caminho para chegarmos ao seu coração. E esse caminho é Jesus, que diz: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida" (Jo 14.6). Jesus é a porta que se abre para a grande graça e misericórdia de Deus.
A mensagem do evangelho está plantada na pessoa de Jesus Cristo, a Palavra viva de Deus. No evento Cristo – nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus –, foi aberto o caminho para que nos reconciliemos com Deus.
Jesus mesmo anunciou essas boas-novas do evangelho em seu chamado cifrado: "Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo" (Mt 4.17). A palavra "arrepender" (metanoeo) significa aqui literalmente "dar meia-volta na mente". Em outras palavras, devemos reavaliar todo nosso estilo de vida à luz deste grande fato: na pessoa de Jesus Cristo, o Reino dos céus se tornou acessível aos seres humanos.
O que isso significa? Significa que podemos ser reconciliados com Deus. Significa que podemos ser renovados. Significa que podemos nascer do alto. Significa que podemos experimentar o perdão dos pecados pela morte expiatória de Jesus sobre a cruz*. Significa que podemos entrar numa relação de amor, viva e eterna com Deus, por meio de Jesus Cristo, o Filho, pelo poder do Espírito Santo. Com certeza, essas notícias são de fato muito boas!
Ouçam Jesus e seu grande convite da graça: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mateus 11.28-30).
Portanto, somos convidados a uma nova vida em Cristo. E adquirimos essa vida somente pela fé. Não há nada que possamos fazer para ser bons o suficiente para recebê-la. É um dom, totalmente gratuito (pela graça): "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie (Efésios 2.8,9). Nas palavras de P. T. Forsyth: "O cristianismo não é o sacrifício que fazemos, mas o sacrifício em que confiamos; não é a vitória que vencemos, mas a que herdamos. Esse é o princípio evangélico".
Por favor, entenda: não estamos aqui conversando somente (nem principalmente) sobre como podemos entrar no céu quando morrermos. Entrar no céu é uma questão de consequência genuína (e isso vem como parte do pacote completo), mas as boas-novas do evangelho são que a vida abundante em Cristo começa agora, e a morte passa a ser apenas uma transição menos desta vida para a Vida maior.
Desse modo, as boas-novas do evangelho são que entramos na vida em Cristo como discípulos dele agora mesmo. Isso não significa crer agora e matricular-se como discípulo depois, se estivermos interessados (como se fosse possível crer sem ser discípulo). Crer em Jesus e ser discípulo de Jesus são partes da mesma ação. Nós recebemos Jesus Cristo, a Palavra viva de Deus, como nossa vida. Ele promete estar unido conosco conforme estamos unidos com ele, e promete nos ensinar a viver nossa vida como se fosse ele em nosso lugar. Ele está vivo e entre nós, em todos os seus ofícios: como nosso Salvador, para nos redimir; como nosso Mestre, para nos guiar; como nosso Senhor, para nos governar; e como nosso Amigo, para andar ao nosso lado. Dessa forma, crescemos cada vez mais na semelhança com Cristo, "pois aquele que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho" (Romanos 8.29a).
Além disso, recebemos a honra de falar a todos os povos dessa boa notícia de vida perene em Cristo: "Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei" (Mateu 28.19,20a).
Entretanto, não podemos realizar isso sem que primeiro ocorra a obra de transformação de vida em nós. Não podemos pregar as boas novas e ser más notícias. Desse modo, fazendo os ajustes culturais necessários, entramos na vida dos Evangelhos e fazemos o que eles fizeram e vivemos como eles viveram. Quando incorporamos as palavras de Cristo em nosso coração, s pessoas ao nosso redor, ao verem o poder transformador de Deus, dirão: "Precisamos entrar nessa". O que estamos oferecendo ao mundo é a vida como ela deveria ser.
Lembre-se, estamos convidando as pessoas não meramente para aceitar um conjunto de crenças a respeito de Jesus que de alguma forma vai acionar a alavanca divina e mandá-las para o céu quando morrerem. Não mesmo! Estamos convidando as pessoas a crer em Jesus e se tornarem discípulos dele e, como seu discípulos (ou aprendizes), matricularem-se na sua escola de vida. Dessa forma elas aprenderão com o Caminho, assumindo gradativamente para si as esperanças, os sonhos, os desejos, os hábitos e as habilidades de Jesus. É assim que aprendemos a "obedecer a tudo o que eu lhes ordenei". Não há outro meio.
Alguns talvez perguntem por que não falo mais sobre a morte vicária e substitutiva de Cristo na cruz pelo perdão dos pecados. A resposta é que não é que eu considere esse assunto sem importância, mas não quero que as pessoas confundam uma teoria da expiação com a experiência da graça salvífica. Pessoalmente, mantenho que a morte de Cristo na cruz satisfez a justiça de Deus e abriu o caminho para a nossa reconciliação com Deus, dependendo de nosso arrependimento e aceitação da livre dádiva da salvação. Mas, de novo, essa é uma teoria da expiação, e muitas pessoas sem dúvida experimentaram a graça salvífica e a vida abundante com Cristo como discípulos dele sem crer em nem um pingo dessa teoria em particular. Naturalmente, se eu estivesse escrevendo uma teologia da cruz, investigaria detalhadamente a doutrina da expiação.
ResponderExcluir(Richard Foster)