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"Uma das grandes tentações que enfrentamos como evangélicos -- e para este fim, incluo aqui a ala da Igreja que às vezes chamamos de renovada ou carismática -- é a idéia de que a personalidade e o coração serão transformados como que por um raio do Espírito. Você pode chamar isso de avivamento ou qualquer outro nome. Haverá um grande estrondo e, de repente, você se verá transformado em todos os aspectos de seu ser. Não será necessário passar por um processo -- o seu objetivo será alcançado de forma passiva e imediata.
Considere agora o seguinte: quando o povo de Israel entrou na Terra Prometida, a primeira cidade com a qual deparou foi Jericó e, como sabemos, os muros de Jericó ruíram. Agora, diga-me uma coisa, quantos muros ruíram na conquista das outras cidades da Terra Prometida? O que os israelitas tiveram de fazer com o restante dessas cidades? Tiveram deconquistá-las, não é?
(...)
Precisamos entender que a formação espiritual é um processo que envolve a transformação da pessoa como um todo, e que, nesse processo, a pessoa deve ser ativa em Cristo."
"Abrindo nossa vida para o Espírito
O segundo lado do triângulo é a interação com o Espírito de Deus dentro de nós e ao nosso redor. Como Paulo diz, viver no Espírito nos permite "andar" no Espírito (Gl 5:25). Essa personalidade onipotente e criativa, o "fortalecedor", o parakletos de João 14, aguarda com toda calma nosso convite para que ele opere em nós, conosco e por nós.
A presença do Espírito Santo pode sempre ser reconhecida pela maneira de ele nos mover em direção ao modo de ser e agir de Jesus (Jo 16:7-15). Sabemos que o Espírito está agindo em nós quando experimentamos em nosso ser interior a doçura celestial e o poder de vida — o amor, a alegria e a paz — que Jesus experimentou.
A vida no Espírito se manifesta, no exterior, de duas maneiras. Os dons do Espírito nos permitem realizar algumas funções específicas — como servir, curar ou liderar o culto —, com efeitos que superam, de forma clara, nossas capacidades. Esses dons cumprem os propósitos de Deus no meio de seu povo, mas não indicam, necessariamente, a condição de nosso coração.
O fruto do Espírito, em contrapartida, é indicador seguro de um caráter transformado. Quando aprendemos a deixar que o Espírito cultive a vida de Jesus dentro de nós, temos atitudes e inclinações mais profundas semelhantes às de Jesus. Paulo confessou: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:19-20). O resultado de Cristo viver em nós por meio do Espírito é fruto: "amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gl 5:22-23; cf. também Jo 15:8).
Tanto os dons quanto o fruto são o resultado, e não a realidade da presença do Espírito em nossa vida. O que nos transforma à semelhança de Cristo é nossa interação direta e pessoal com Cristo por meio do Espírito. O Espírito torna Cristo presente para nós e nos aproxima de sua semelhança. Ao contemplarmos desse modo "a glória do Senhor [...] estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito" (2Co 3:18).
(...)
Qual é o papel dos dons e do fruto do Espírito na formação espiritual?
Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gl 5:22-23). A idéia é a mesma ou intimamente relacionada àquilo que Paulo chama em outra passagem de "fruto da luz |que] consiste em toda bondade, justiça e verdade" (Ef 5:9). Evidentemente, é o mesmo que amor no sentido abrangente da palavra descrito por Paulo em 1 Coríntios 13 e Colossenses 3:14, um tema constante nos ensinamentos de Jesus.
O fruto do Espírito e simplesmente o caráter interior do próprio Cristo concretizado em nós por meio do processo da formação espiritual cristã. É o resultado da formação espiritual. É "Cristo formado em nós". É chamado de "fruto", pois, como o fruto das árvores ou videiras, e conseqüência daquilo que nos tornamos, e não o resultado de um esforço específico para dar frutos. E, desse modo, nos tornamos "frutuosos", pois recebemos a presença do Espírito de Cristo por meio do processo de formação espiritual e agora esse Espírito, interagindo conosco, nos enche de amor, alegria, paz etc.
A medida que o fruto do Espírito aumenta em nós, é evidente que se torna um elemento dinâmico por si mesmo no processo contínuo de formação espiritual. Ser tomado de amor, alegria, paz etc. e ter os recursos ricos para manter e intensificar uma vida repleta de fé e para crescer em todas as dimensões da graça interior e exterior. O fruto do Espírito e a formação espiritual passam a se sustentar mutuamente, à medida que a formação espiritual progride no indivíduo.
Isso também se aplica, de outra forma, à formação espiritual e aos dons do Espírito. Os dons do Espírito são habilidades sobrenaturais específicas distribuídas entre aqueles que constituem o Corpo de Cristo aqui na terra, a fim de que todos os membros possam ser beneficiados por todos esses dons conforme necessário. "Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum" (1 Co 12:6-7). A formação espiritual não tem meios de avançar da forma como Deus determinou se o indivíduo não fizer parte de um corpo de cristãos onde possa receber os benefícios dos dons de outros. Sem os dons, o fruto não pode ser produzido nem mantido.
Os dons do Espírito, por sua vez, só podem ser usados corretamente se aquele que os recebe e serve a outros por meio deles tiver a devida formação interior na semelhança de Cristo. Não somos passivos no processo de receber e servir com os dons do Espírito. Eles devem ser buscados, recebidos e cultivados ativamente. Tudo isso requer uma transformação contínua do ser interior. A formação espiritual lança os alicerces e fornece a estrutura apropriada para o exercício desses dons pelo indivíduo e pelo grupo, e o exercício desses dons pelo indivíduo para o grupo e, dentro do grupo para o indivíduo, é necessário para que a formação espiritual avance da maneira como deve. Os dons, de per si, não têm participação relevante na formação do espírito e do caráter daqueles que o exercitam. E, o que é mais importante, apesar de fazerem parte da formação espiritual, os dons do Espírito não a substituem."
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