3 de junho de 2008

Da Solidão à Solitude

Cada um de nós, não só as pessoas que sofreram carência afetiva na infância como Lana e outros, precisa ganhar coragem e decisão para enfrentar a solidão interior e ali começar a ouvir a voz de Deus, dentro de nosso eu mais verdadeiro. A necessidade disso é apenas maior para as Lanas e Lisas que vivem por aí. Na maravilhosa figura de Henri Nouwen, precisamos "converter o deserto da solidão" que existe no profundo de nosso ser em um "jardim de solitude" onde começa a florescer a vida espiritual. "Em vez de fugir da solidão, de tentar esquecer e negá-la, temos de protegê-la e torná-la em solitude frutífera". Essa é a parte essencial do que significa praticar a presença de Deus, de relacionarmo-nos com o próprio Deus.

Leanne Payne, Imagens Partidas, Sepal, 2001, p.128

2 de junho de 2008

Afastamento

"Podemos às vezes ofender com palavras; mas também podemos ofender muito mais com o silêncio. Nenhum insulto pronunciado jamais feriu tão profundamente como a ternura que esperamos e não recebemos; e ninguém jamais se arrependeu tão amargamente de uma indiscrição pronunciada, como das coisas que deixou de dizer."
Jan Struther

A duas formas [de desamor] são a agressão (ou a ofensa) e o afastamento (ou o "distanciamento"). (...)
Afastamo-nos de alguém quando tratamos seu bem-estar e sua bondade com indiferença, chegando provavelmente ao ponto de menosprezá-lo. Nós "não nos importamos".
Dallas Willard

No mundo hodierno é difícil delimitar a nossa comunidade por causa das variáveis conexões mundiais entre todos. Essa época do ano me faz lembrar da antiga composição do meu círculo social. O processo de afastamento não pôde ser evitado com a minha mudança. Nem ferramentas da web, nem a benquerença foram suficientes para manter a proximidade. A despeito disso tudo, a vida eterna é o consolo, o reino abrangente é a inspiração.

1 de junho de 2008

Os Guinness

Cristianismo Hoje: Em sua opinião, os cristãos estão deixando um vácuo na sociedade?

Os Guiness: O problema não é bem esse. Não é que os cristãos não estejam aonde deveriam estar; o problema é que eles não são o que devem ser, exatamente onde estão. E precisamos de cristãos que saibam como aplicar o senhorio de Jesus e fazer a integração de sua fé em cada parte, em cada esfera da vida. A fé de cada um precisa ser integrar ao todo de sua vida. Os crentes devem viver de maneira cristã, devem trabalhar de maneira cristã. Quem é advogado e conhece Jesus deve exercer a advocacia de maneira cristã. Isso vale para qualquer um que professe fé no Salvador – o médico, o técnico da computação, o lixeiro. Só assim teremos chance de ser sal e luz e ganhar de volta a cultura. Infelizmente, o número de cristãos que pensam é uma minoria. Nas Escrituras, temos o mandamento de amar ao Senhor nosso Deus com todo o nosso entendimento. Mesmo assim, muitos cristãos simplesmente não pensam. Dessa forma, nunca conseguiremos ganhar o mundo moderno, a não ser que tenhamos uma geração que aprenda a pensar biblicamente e de maneira cristã.

Confira a entrevista completa no site da Revista Cristianismo Hoje.

Príncípe Caspian

O que mais me chamou a atenção, em todo o filme, foi a construção da esperança individual de cada personagem. Lúcia sempre foi a "protegida" e nós a vemos como "A Valente" de Nárnia. Suzana já não tem mais esperança, Ela está em Nárnia, mas Nárnia não está em seu coração. Edmundo, antes traidor, agora procura viver como JUSTO. Pedro começa com o ego inflado (por Nárnia), mas termina destemido e cheio de humildade (por Aslan).
Da metade do filme pra frente o coração aperta. O final da primeira batalha faz pensar e refletir bastante sobre o peso de nossas escolhas. O desenvolvimento da segunda batalha demonstra que nem sempre devemos recuar de nossas lutas pessoais. O final dá vontade de chorar (pois nem sempre temos sempre conosco aquilo que realmente é importante na vida).
(comentário de Sérgio no Orkut)

Ontem assisti o fantástico filme que eu vinha anunciando por aqui. Enquanto reúno as idéias pra dizer o que achei da película, recomendo alguns textos:

Blog dos Editores da Thomas Nelson

Lições Espirituais
de Príncipe Caspian

Comunidade no Orkut

http://www.cslewis.com.br/site/

Lars e o Verdadeiro Amor


Trailer de "Lars and the real girl" ("Lars e o Verdadeiro Amor" - titulo em Portugal)
Manuel Anastácio
Jesus resolveria os problemas com milagres. É a atitude infantil que espera resolver todos os problemas com um passe de magia. Jesus, no entanto, seria apenas bom. Faria, com certeza, o milagre, se o pudesse fazer. Mas a solidariedade é-o sempre. Milagre. Porque um milagre é um sorriso divino – sorriso, não: gargalhada! E a solidariedade? É dar as migalhas da mesa a Lázaro que sob ela se arrasta? Ou aceitar Lázaro à mesa? E quem aí o aceita? Poucos, de facto.

“Lars e o Verdadeiro Amor” (“Lars and the Real Girl”), apresentado como uma comédia romântica é, no entanto, para mim, a mais simpática e saudável das alegorias cristãs que já vi até hoje. O filme não é sobre um tarado que julga que a sua “boneca insuflável” é um ser real e amável (sendo amável aquilo que é passivo de se amar). O subcontexto sexual do filme é apenas um acidente num quadro de pura moral e ternura comunitária cristã. É uma história de amor na acepção exposta por São Paulo no seu célebre capítulo 13 da Primeira Epístola aos Coríntios. Fosse eu professor de Educação Moral e Religiosa ou catequista, e mostraria o filme sem quaisquer pruridos na consciência aos alunos, como exemplo do que deveria ser a vida cristã. Como deveria ser, não como é.

“Lars”, sem ser uma obra prima, é um bom exemplo de que como o cinema não vive apenas de devorar as misérias humanas, podendo mesmo ascender ao mais cândido dos optimismos sem que tenha, por isso, de alienar por completo o espectador num mundo de maravilhas que mantenha em coma o seu sentido crítico. Não precisa de envolver as personagens numa via sacra para justificar a redenção final. Um percurso de placidez e sorrisos pode dar origem a um filme tão apaixonante como outro em que as personagens são obrigadas a enfrentar as próprias tripas.

A argumentista, Nancy Oliver, que já tinha participado na série “Six feet under” não procura a clássica fórmula que passa por angustiar o espectador para tudo redimir com uma resolução benévola no final. Todo o filme é imerecidamente benévolo para seres humanos que improvavelmente aceitariam o desafio de acolher no seu seio um corpo cuja alma reside no seu exterior – o desafio de compartilhar a loucura por um bem maior. A alma desta boneca anatomicamente correcta encomendada pela Internet, apresentada por Lars como sua namorada, nasce, não apenas da imaginação iludida de Lars, mas também da aceitação incondicional daqueles que conferem à ilusão a força da necessidade. A boneca não aparece naquela comunidade apenas como meio para a resolução das angústias de Lars, mas como meio de justificação e laço de união comunitário. Não é uma mascote. É uma extensão de alma de um dos seus membros, tornados ainda mais queridos porque extraviados da senda mental por onde quase todos seguem. Uma extensão de alma que pede urgentemente para se libertar, de modo a permitir à alma que lhe deu origem um regresso a casa. Não se esqueçam que a Ética é, segundo Heidegger, a habitação do homem nos deuses. Lars, sem morada, regressa a casa pela mão daquela comunidade cristã que não o repudia nem dele se enoja e que mesmo dele se rindo, o faz com a compaixão de quem não fere nem com palavras. Da mesma forma, a própria boneca, Bianca, não sendo, também regressa a casa, sendo.

O filme não é uma obra prima. Mas não me lembro de melhor prova – não da existência de Deus mas, pelo menos, da sua dolorosa necessidade. Talvez Deus seja uma ilusão. Bianca é uma ilusão. Logo, talvez Bianca seja Deus. A lógica não é perfeita. Mas a conclusão, sofisma ou não, ajusta-se às mil maravilhas. Colocaria este filme na lista dos dez melhores filmes de sempre sobre Deus… Hum… isso dava um post… :)

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Análise de Manuel Anastácio. Indicação de Paulo Brabo.
Siga também as pistas que me levaram a assistir o excelente Once.