14 de agosto de 2010

PECADO ORIGINAL



A DEPRAVAÇÃO CONTAMINA A TODOS
Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. (Sl 51.5)


A Escritura diagnostica o pecado como uma deformidade universal e em todas as pessoas (1 Rs 8.46; Rm 3.9-23; 7.18; 1 Jo 1.8-10). Ambos Testamentos têm nomes para ele que revelam seu caráter ético como rebelião contra os preceitos de Deus, errando o alvo fixado por Deus para nós, transgredindo a lei de Deus, desobedecendo às instruções de Deus, maculando a pureza de Deus com nossa corrupção e incorrendo em culpa perante Deus o Juiz. Essa deformidade moral é dinâmica: o pecado permanece patente como uma energia em reação irracional, lutando contra Deus com o intento de manipulá-lo. A raiz do pecado é o orgulho e inimizade contra Deus, espírito que é visto na primeira transgressão de Adão; e atos pecaminhosos sempre têm atrás de si pensamentos, motivos e desejos que, de uma forma ou de outra, expressam a oposição obstinada do coração decaído às reivindicações de Deus em nossa vida. [O pecado pode ser compreensivelmente definido como falta de conformidade à lei de Deus em ação, hábito, atitude, perspectiva, disposição, motivação e modo de viver]. (...)

Pecado original, significando o pecado derivado de nossa origem, não é uma expressão bíblica (foi Agostinho quem a cunhou), mas é uma expressão que traz a uma proveitosa focalização a realidade do pecado em nosso sistema espiritual. A asserção de pecado não significa que o pecado pertence à natureza humana como Deus a fez ("Deus fez o homem reto" Ec 7.29), nem que o pecado está envolvido no processo de reprodução e nascimento (...), mas sim que (a) a pecabilidade marca todos desde o nascimento, e está lá na forma de um coração motivacionalmente torcido, anterior a quaisquer pecados reais; (b) esta pecabilidade interior é a raiz e fonte de todos os pecados reais; (c) ela nos vem por derivação de uma forma real, embora misteriosa, desde Adão, nosso primeiro representante diante de Deus. A afirmação do pecado original indica intrinsecamente que não somos pecadores porque pecamos, mas sim que pecamos porque somos pecadores, nascidos com a natureza escravizada ao pecado.

A expressão depravação total é comumente usada para tornar explícitas as implicações do pecado original. Ela significa uma corrupção de nossa natureza moral e espiritual que é total não em grau (pois ninguém é tão mau quanto pode ser), mas em extensão. Ela declara que nenhuma parte de nós é intocável pelo pecado e, portanto, nenhuma ção nossa é tão boa como deve ser, e consequentemente nada em nós ou acerca de nós jamais parece meritório aos olhos de Deus. Não podemos conquistar o favor de Deus, não importando o que venhamos a fazer; a menos que a graça nos salve, estamos perdidos.

A depravação total vincula a capacidade total, isto é, o estado de não poder em si mesmo responder a Deus e à sua Palavra de modo sincero e prazenteiro (Jo 6.44; Rm 8.7,8). Paulo chama a este alheamento do coração decaído um estado de morte (Ef 2.1,5; Cl 2.13), e a Confissão de Westminster diz: "O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso."

Teologia Concisa
J. I. Packer

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4 comentários:

  1. "uma doutrina particular deve ser recuperada e mais plenamente abraçada se a América do Norte quiser sair de sua atual crise na eclesiologia. Por mais surpreendente que possa parecer, a doutrina que tenho em mente é a doutrina do pecado original" - Kevin DeYoung, Por que amamos a igreja, Ed. Mundo Cristão, p. 216, 217.

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  2. Aí está um assunto que rende muita conversa rs. Pecado Original, o que isso queria dizer e o que isso deveria significar, será que os reformadores não exageraram? etc... hehe

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  3. Então, estou enxergando as noções que estão no centro das controvérsias e trazendo aqui para reflexão... é verdade?

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  4. Não é exagero! Sem a admissão de 100% da depravação humana, não há admissão de 100% da graça divina. Parcialidade da graça, espaço para altivez humana. Eis o antídoto para a soberba e o legalismo. Mesmo as obras de justiça, daquele que foi alcançado por graça, são frutos de uma ação generoso do Senhor pelo Espírito Santo.

    Muito bom o texto!

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